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As 10 declarações oficiais mais ridículas já dadas pelas empresas de games

Victor Bianchin

07/09/2020 08h00

Arte: Control Freak/Allan Francisco / Divulgação Epic Games / OpenClipart-Vectors

Dizem que a criatividade é a mãe da invenção. Se for, então podemos dizer que a ganância é a mãe da cara de pau.

Toda vez que alguma polêmica começa a se acender no mundo dos games, existe sempre um porta-voz para eufemizar a situação com um monte de palavras bonitas e nenhuma boa vontade. É a lógica do departamento de marketing: disfarçar práticas feias com um discurso de "a gente quer que vocês tenham a melhor experiência".

Confira 10 vezes em que a gente ouviu as empresas de games e respondeu: "quem não te conhece, que te compre".

1) "Mecânicas surpresa"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Em junho de 2019, a Electronic Arts foi convocada pelo Parlamento britânico a se apresentar diante do Comitê de Mídia, Cultura e Esporte Digital para comentar o uso de loot boxes em jogos como FIFA e Star Wars Battlefront 2. O objetivo era averiguar se essas mecânicas levavam ao vício e se introduziam as crianças ao hábito dos jogos de azar.

Quem acabou dando a cara para bater em frente ao Comitê foi Kerry Hopkins, vice-presidente de assuntos legais e governamentais do estúdio. E o que Kerry fez? Colocou sua melhor poker face, chamou as loot boxes de "mecânicas surpresa" e disse que não tem nada de errado com elas.

– Você considera as loot boxes como uma característica ética dos seus jogos?
Kerry Hopkins: "Bem, em primeiro lugar, a gente não as chama de loot boxes (…) o que estamos tratando aqui são mecânicas surpresa".

Sim, na cara dura! Mas fica pior. Mais para frente, ela diz que:

Kerry Hopkins: "Elas [as loot boxes] não são jogos de azar. E a gente também não concorda que exista evidência mostrando que elas podem encaminhar ao jogo de azar, nós achamos que são como vários outros produtos que as pessoas aproveitam de uma maneira saudável e que as pessoas gostam do elemento de surpresa. (…) Para todos os jogos que temos no mercado e que possuem uma mecânica de conteúdo aleatório, uma mecânica surpresa, uma loot box, eu não possuo nenhuma dúvida de que são implementadas de uma maneira ética".

Claro, porque é extremamente ético cobrar 90 dólares por uma chance de obter o Darth Vader.

2) "Não estamos ganhando dinheiro"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Na mesma audiência que ouviu a EA, o Comitê de Mídia, Cultura e Esporte Digital do Reino Unido também deu espaço para a Epic se justificar sobre seu game Fortnite. O objetivo, novamente, era saber sobre loot boxes. Canon Pence, diretor do departamento jurídico da Epic, se saiu com esta pérola:

Canon Pence: "Eu não acho que é exato definir a Epic como uma empresa que está ganhando dinheiro das pessoas que jogam o jogo. (…) Sempre foi nosso esforço e nossa intenção criar uma forma de entretenimento divertida, justa, flexível, envolvente e generosa. Uma declaração que sugere que se trata de uma espécie de tentativa nefasta de extrair lucro a curto prazo é uma descaracterização."

A Epic faturou US$ 2,4 bilhões em 2018 só com Fortnite. É verdade que o jogo em si é gratuito, mas o faturamento que vem das microtransações e também de eventos dentro do jogo patrocinados por outras empresas, como Marvel e NFL, precisa ser levado em conta.

Afinal, como bem respondeu um dos membros do Comitê aos devaneios de Pence: "sua empresa não é uma instituição de caridade".

3) "Afirmações políticas"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

A frase acima, proferida pelo chefe de desenvolvimento Sébastian Le Prestre em entrevista para o Gamespot, foi dita a respeito do jogo Tom Clancy's Ghost Recon Breakpoint, de 2019. Mas, oh boy oh boy, ela poderia facilmente ter sido dita a respeito de Tom Clancy's Elite Squad, título que o estúdio está lançando este ano e que causou enorme polêmica devido ao trailer que atribui aos vilões do jogo características de movimentos civis da atualidade.

A frase completa de Le Prestre foi a seguinte: "Estamos criando um game aqui, não estamos tentando fazer afirmações políticas em nossos jogos. Nós nos firmamos na realidade e tudo que você vai receber desse jogo vai estar no jogo em si – cada pessoa irá tirar algo diferente de sua experiência. A história pode fazer você enxergar diferentes situações, mas nós não estamos tentando guiar ninguém ou fazer qualquer tipo de discurso. É um cenário 'E se?', é Tom Clancy, é puramente ficcional".

Você sabe, isso vindo de uma empresa que recentemente fez jogos sobre a Revolução Francesa, sobre uma cidadezinha tomada por um culto apocalíptico, sobre uma divisão militar enfrentando milícias e sobre agentes americanos invadindo a Bolívia para enfrentar um cartel de drogas.

Política na Ubisoft? Imagina. Coisa da sua cabeça.

4) "Entre em contato com o governo"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Se você acha que a frase acima está até ok, é porque falta contexto. Esse é um trecho de uma declaração postada no site da desenvolvedora 2K Games a respeito de loot boxes em seus jogos e a proibição dessas mecânicas na Bélgica. Nessa declaração, a 2K está basicamente implorando para que sua fanbase faça lobby A FAVOR de loot boxes.

Isso mesmo, eles querem que os fãs peçam para continuar sendo feitos de trouxa.

Se você acha que estamos exagerando, vale dizer que essa declaração foi feita em 2019 e que, apenas um ano depois, na época deste post, a 2K acabou de retirar do YouTube o trailer do jogo NBA 2K20 porque um dos atrativos em evidência eram as mecânicas de loot box. E sabe como essas mecânicas estavam representadas no trailer? Literalmente por uma máquina caça-níquel!

Divulgação / 2K Games

É muita falta de vergonha na cara, né?

5) "Felizmente"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Mattrick resolveu soltar essa numa entrevista durante o evento de anúncio do Xbox One, em que a Microsoft causou polêmica por anunciar que o novo sistema só permitira jogar se você estivesse online. Basicamente, o executivo mais poderoso do Xbox estava dizendo aos fãs: "não tem acesso à internet? Fique com o produto da geração passada, seu pobre".

6) "Compatibilidade retroativa"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

E Don Mattrick ataca novamente! Desta vez a pérola foi dita numa entrevista ao Wall Street Journal em que ele comentava a falta de compatibilidade do Xbox One com os jogos do Xbox 360.

A tradução aqui não tem como ser totalmente fiel à frase original, "If you're backwards compatible, you're really backwards". Daria para traduzir como "você está realmente olhando para trás" ou "você está realmente com as prioridades invertidas" e ambas estariam certas.

De qualquer forma que se traduza, porém, quem saiu insultado na história foram os consumidores da Microsoft, usados como justificativa para uma tática de marketing que obviamente tinha outra$ motivaçõe$.

7) "Finais diferentes"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Ah, a ironia. Esta frase de Hudson sobre Mass Effect: Andromeda não é apenas irônica, ela é dolorosa, afinal os três finais do jogo são iguais e esse foi justamente um ponto de atrito gigante entre o estúdio e o público. Aliás, atrito do qual a BioWare ainda não se recuperou…

8) "O precedente que isso teria aberto"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Ah mas é lógico que a Blizzard estaria nesta lista. Essa empresa está desde 2019 andando em ovos por causa da polêmica do ban no competidor de Hearthstone e, pra sermos honestos, ainda não vimos nenhum sinal concreto de mudanças positivas.

Pra quem não lembra, a Blizzard baniu o jogador Blitzchung após ele se pronunciar a favor dos protestos em Hong Kong numa entrevista transmitida em streaming após um torneio. Apesar de críticas da comunidade e ameaças de boicote, a empresa apenas reduziu o tempo de banimento e não se comprometeu fazer nenhuma outra mudança a respeito.

A frase acima foi retirada de uma entrevista que Brack deu em novembro de 2019 durante a BlizzCon. A mensagem era bem clara: a Blizzard queria evitar polêmicas nas entrevistas dos jogadores para ficar bem na fita e não irritar patrocinadores e parceiros. Não é duro quando a chapabranquice chega a este nível?

9) "Era muito cara"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Fallout 76 é o ruim que continua piorando. O jogo foi destaque no nosso Troféu Game Over do ano passado e continua sendo assunto neste blog porque, oras, são muitos defeitos ao mesmo tempo concorrendo por atenção.

A frase acima foi enviada pelo SAC da Bethesda a um usuário quando ele reclamou que a sacola enviada com a Power Armor Edition de Fallout 76 – uma edição especial que custava US$ 200, veja você – era de nylon, e não de tecido, como anunciado. Nylon, obviamente, é um material de pior qualidade para uma sacola, portanto a queixa era legítima.

Divulgação / Bethesda

O pior de tudo é que, quando essa mensagem viralizou nas redes sociais, ainda era possível comprar a Power Armor Edition e o anúncio literalmente dizia que a sacola era feita de tecido. A Bethesda posteriormente alterou a descrição do produto no site oficial, mas a foto continuou sendo da sacola de tecido.

A empresa também se pronunciou a respeito da resposta do SAC dizendo que ela estava "incorreta" e que havia sido enviada por um "funcionário terceirizado".

São sempre os freelas que saem culpados, né?

10) "Celulares"

Arte: Control Freak/Allan Francisco

Essa frase maldita foi dita durante a BlizzCon 2018 e se tornou um símbolo de como um estúdio pode decepcionar seus fãs. O evento estava altamente hypado porque, em agosto daquele ano, a Blizzard havia postado um vídeo no YouTube dizendo que tinha "vários projetos de Diablo em desenvolvimento". Vale lembrar que Diablo III tinha saído em 2008, com expansões lançadas em 2014 e 2017. Os fãs estavam carentes de algo novo.

Com o vídeo, a empolgação subiu e os rumores eram de que a Blizzard iria anunciar um port de Diablo III para o Switch, um remake de Diablo II ou então – a notícia mais desejada de todas – que estava desenvolvendo um Diablo IV. O port se concretizou algumas semanas depois, então ficou a expectativa do anúncio da nova sequência.

Qual não foi a decepção de todo mundo, então, quando a BlizzCon, que rolou em novembro, trouxe como única novidade o lançamento de Diablo Immortal, um jogo exclusivo para celulares? Não era o que os fãs queriam e a resposta foi morna.

A coisa toda virou meme quando um fã no evento perguntou se haveria uma versão para PC e Wyatt Cheng, que estava no palco representando o time Diablo, respondeu que não. Os fãs vaiaram e, como resposta, Cheng fez a desastrosa pergunta: "vocês não têm celulares?".

Coincidência ou não, a Blizzard anunciou, na BlizzCon seguinte, o lançamento de Diablo IV. Pois é, Blizzard, se não pode vencê-los, junte-se a eles.

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Sobre o Autor

Victor Bianchin é jornalista, já foi editor da revista Mundo Estranho e escreveu um almanaque de games. Ele tem um Rush de estimação e considera a técnica do button mashing algo subestimado.

Sobre o Blog

Em Control Freak você vai ficar por dentro das curiosidades, bizarrices e polêmicas saudáveis do universo dos games.