Blizzard e outras 5 empresas que voltaram atrás após polêmicas
Quem tem acompanhado as notícias sobre games na última semana sabe que a Blizzard se meteu numa polêmica gigantesca envolvendo um competidor de Hearthstone e o governo chinês.
Não é a primeira vez em que uma empresa volta atrás após uma polêmica. Em casos de injustiças ou abusos óbvios, geralmente a pressão dos fãs costuma ser o peso extra que muda a balança.
Selecionamos alguns desses casos em que o recuo foi inevitável.
1) Blizzard bane jogador por protestar, vira alvo de boicote
A polêmica com a Blizzard começou no dia 6 de outubro, quando um jogador profissional de Hearthstone chamado Ng Wai "blitzchung" Chung deu uma entrevista ao vivo após uma partida para a transmissão oficial do torneio. Chung, que é nascido em Hong Kong, exclamou: "Liberem Hong Kong, revolução da nossa época!".
Hong Kong é uma região administrativa especial da China. Isso implica que, embora a região tenha minorias étnicas específicas e leis diferentes, está submissa ao governo chinês. Desde o começo de 2019, movimentos pró-democracia têm realizado protestos na região e entrado em conflitos com as autoridades. Eles pedem autonomia política e administrativa para Hong Kong. "Liberem Hong Kong, revolução da nossa época!" é um de seus principais lemas.
Chung também estava usando uma máscara quando deu a entrevista, o que alude a uma lei aprovada em 5 de outubro que proíbe, sob pena de prisão, o uso de máscaras em Hong Kong.
A Blizzard não gostou nada da manifestação política e resolveu agir. No dia 8, a empresa publicou uma declaração oficial dizendo que Chung violou as regras da competição e baniu o jogador dos torneios profissionais de Hearthstone por 12 meses. A Blizzard também cancelou um prêmio de US$ 10 mil que Chung estava para receber. Os dois apresentadores que entrevistaram Chung também foram afastados por permitirem que o protesto acontecesse.
Essas medidas tiveram efeito de fogo em pólvora na comunidade. A Blizzard passou a ser fortemente criticada pela comunidade gamer, com muitas acusações de que a desenvolvedora estaria aplicando censura para não desagradar a China, onde tem interesses comerciais. Jogadores, profissionais da indústria, advogados e celebridades de outras áreas passaram a criticar abertamente a empresa nas redes sociais.
Pior: os gamers iniciaram uma campanha de boicote, a #BoycottBlizzard. Os posts na internet incluem a personagem Mei, de Overwatch (outro jogo da Blizzard), que é chinesa, como símbolo de protestos contra a fabricante e também memes do presidente chinês, Xi Jinping, caracterizado como o Ursinho Pooh, o que alude ao episódio de censura de Devotion.
A reação inicial da Blizzard foi continuar tentando impedir a discussão. Pessoas que discutiram o assunto Hong Kong nos fóruns oficiais da empresa tomaram ban de mil anos, e muitos indivíduos que tentaram deletar suas contas enfrentaram dificuldade no procedimento, o que também motivou denúncias (a Blizzard nega ter dificultado a eliminação das contas).
Mas a pressão foi tanta que a Blizzard precisou recuar. No dia 12, a empresa soltou um comunicado dizendo que "em retrospecto, nosso processo não foi adequado e nós reagimos muito rápido". A empresa devolveu o prêmio de US$ 10 mil a Chung e reduziu seu ban para 6 meses, em vez de 12. Os apresentadores também ficarão banidos por apenas 6 meses.
O comunicado também disse que "As opiniões específicas expressas por blitzchung NÃO foram um fator na decisão que tomamos. Quero ser claro: nossas relações na China não tiveram influência na nossa decisão". Insira aqui o meme da Monica escrevendo "ata" no computador.
A polêmica continua viva nas redes sociais, assim como a campanha de boicote. Vamos ver no que vai dar.
2) Youtuber reclama de microtransações, empresa usa "violação de direito autoral" para tirar o vídeo do ar
Em 2010, uma empresa da Bielorrússia chamada Wargaming lançou um MMO que ficou bem famoso, o World of Tanks. O jogo tem o modelo free-to-play, ou seja, você pode "comprar" de graça e jogar os recursos básicos, mas há microtransações para poder acessar recursos melhores (nesse caso, tanques premium).
Em 2017, um youtuber chamado SirFoch publicou um vídeo criticando um dos blindados premium do jogo, o Chrysler K, que tinha o preço nada módico de US$ 80 (aproximadamente R$ 330). No vídeo, que hoje não está mais no ar, SirFoch chamava os executivos da Wargaming de "gananciosos fdp" e outras coisas pouco bonitas.
A resposta da Wargaming foi ameaçar retirar o vídeo do ar com base em violação de direitos autorais por usar imagens de seu jogo – você sabe, igualzinho ao que todo youtuber de games faz. A empresa alegou que alguns vídeos de SirFoch continham discurso de ódio e homofobia, e que não queria seu jogo associado a esse conteúdo.
A atitude pegou mal para os jogadores de World of Tanks, que usaram o fórum oficial e as redes sociais para criticar a Wargaming e sua política de cobrar caro pelos tanques premium, criando uma barreira para jogadores que não querem ou podem pagar por eles.
Após muita controvérsia, a Wargaming lançou um comunicado dizendo que não iria mais tomar nenhuma ação judicial contra SirFoch. "Nós agimos muito rápido e passamos dos limites quando ameaçamos ordenar que o YouTube removesse o vídeo do SirFoch por meio de uma queixa de violação de direito autoral, e nós estamos nos desculpando por isso".
3) Apex Legends exige quase R$ 670 para obter todos os itens de evento especial
Em agosto deste ano, o jogo Apex Legends teve um evento chamando Coroa de Ferro. A principal atração é que seria possível batalhar jogando sozinho, em vez de com times, mas também havia novos 24 itens de evento comemorativos lançados para celebrar.
O problema é que esses itens estavam disponíveis apenas por loot boxes. Basicamente, a Coroa de Ferro disponibilizou 24 caixas especiais aos jogadores, sendo que apenas duas poderiam ser obtidas apenas com gameplay. Para cada uma das outras, era preciso gastar 700 Moedas Apex, o dinheiro do jogo, que precisam ser compradas com dinheiro real. Para você ter uma ideia, mil Moedas Apex custam R$ 44.
Isso significa que, para comprar todas as 22 caixas, seria preciso gastar cerca de R$ 670. Pior: como o conteúdo de cada caixa era gerado aleatoriamente, se você quisesse apenas um dos itens, por exemplo, você teria que desembolsar as Moedas Apex e torcer para que ele viesse na caixa. A chance era de 1 em 22. Se não viesse o que você queria, era preciso coçar o bolso e comprar mais.
Obviamente, esse sistema gerou bastante polêmica e a empresa se viu sob uma chuva de críticas. Na mesma semana do lançamento do evento, Drew McCoy, produtor executivo do jogo, publicou um comunicado anunciando que as coisas iriam mudar.
Os itens lendários da Coroa de Ferro foram disponibilizados na loja pelo preço de um item lendário comum (1.800 Moedas Apex, o que custa em torno de R$ 80). Ainda caro, mas pelo menos sem o fator de aposta.
"No lançamento, prometemos aos jogadores que trabalharíamos com monetização de uma forma que fosse justa e concedesse escolhas aos jogadores sobre como gastar tempo e dinheiro", dizia o comunicado. "Com o evento Coroa de Ferro, fugimos disso quando quebramos nossa promessa de tornar os Pacotes Apex a única forma de obter o que muitos consideram os visuais mais legais já lançados".
Microtransações abusivas irritando jogadores, já ouvimos essa história antes.
4) Warner cobra por DLC alegando que o dinheiro é pra caridade, só que não era bem assim
Em setembro de 2017, a Warner lançou um DLC para seu jogo Terra-Média: Sombras da Guerra que custava R$ 15 e que era uma homenagem ao desenvolvedor Michael Forgey, que havia falecido de um tumor havia pouco tempo. No DLC, a produtora incluiu um personagem baseado em Forgey.
O problema é que, nos EUA, foi divulgado que parte do valor arrecadado com as vendas do DLC seria doada para a esposa e os filhos de Forgey. Até aí, ok, mas o que a Warner esqueceu de falar na divulgação – e só ficou claro depois de um tweet, reproduzido abaixo – é que essa doação só ocorreria em alguns estados do país, devido às diferentes leis estaduais, e que compras feitas em outros países também não seriam convertidas em doações.
A descoberta desse fato foi suficiente para que muita gente acusasse a Warner de estar tentando lucrar com a morte de seu funcionário.
Para atenuar as críticas, a Warner emitiu um comunicado se desculpando e tornou o DLC gratuito para todos. Quem já havia comprado recebeu um reembolso.
O comunicado dizia que todos os lucros com a venda do DLC em todas as regiões do mundo iriam para a família, mas que a empresa resolveu só divulgar isso nos EUA. "Nossa decisão de não promover a decisão fora dos EUA (mesmo que a gente pretendesse doar o dinheiro) fez com que muitos questionassem para onde os lucros de outros territórios seriam destinados", dizia o texto. "Responder a essa questão diretamente poderia fazer com que a gente fosse submetido a compromissos legais ou poderia nos colocar na posição de estar violando leis de marketing em vigência em alguns dos 241 territórios em que nosso conteúdo está disponível".
5) Estúdio diminui benefícios de pacote vip de Forza 7 sem avisar
Quando o jogo Forza Motorsport 7 foi lançado em 2017, ele incluía, em suas edições Deluxe e Ultimate, um "passe vip" que permitia que os compradores jogassem o game antes do lançamento.
A exemplo de Forza 6, os jogadores VIP ganhavam, ao final de cada corrida, o dobro de créditos (moeda do jogo que permite comprar novos carros e outros benefícios).
Qual foi a surpresa dos VIPs, então, quando o jogo foi lançado para o público geral e eles descobriram que esses créditos em dobro, agora, só valiam por mais 20 corridas? Mudança essa que não havia sido divulgada anteriormente para os compradores.
O público reclamou bastante, a mídia repercutiu e o chefe do estúdio, Alan Hartman, acabou tendo que se explicar em um comunicado. "Ouvimos o que vocês tinham a dizer e, a partir de hoje, vocês podem esperar mudanças significativas", dizia o texto.
A partir de uma atualização do jogo, os VIPs voltaram a ter os créditos em dobro para sempre, além de ganharem de graça quatro carros da melhor categoria de Forza e um milhão de créditos para que gastassem como quisessem.
Fica a dica, estúdios: não irritem quem está pagando pela opção mais cara do seu produto!
6) Estúdio de PUBG ofende seu público mais fiel
Em março deste ano, a versão para celulares do jogo PlayerUnknown's Battlegrounds, ou PUBG, completou um ano de vida. Para comemorar, foi lançada dentro do jogo uma caixa de loot comemorativa chamada "Birthday Crate".
O problema é que essa caixa tinha um design parecido com o da Kaaba, o monumento sagrado que fica no centro da Grande Mesquita de Meca. É em direção à Kaaba que os muçulmanos de todo o mundo precisam rezar, e é ao redor dela que os fiéis dão as sete voltas durante o Hajj, a peregrinação a Meca que precisam fazer pelo menos uma vez na vida.
Não é preciso pensar muito para adivinhar que o design da caixa ofendeu os seguidores do Islã. Eles imediatamente começaram uma campanha nas redes sociais chamada #BoycottPUBG, além de iniciarem petições online para que a Tencent, criadora do jogo, se desculpasse e retificasse o problema.
A Tencent, porém, foi ágil e mudou o design da caixa em menos de 24 horas, amenizando o impacto do erro. Além disso, publicou um pedido de desculpas em sua conta do Twitter.
É claro que houve uma motivação financeira também: os muçulmanos são 15% da população da Índia, país onde o PUBG Mobile é extremamente popular a ponto de ser considerado "epidemia" pela mídia e ter até mesmo sido banido em algumas cidades.
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