Medo! 7 easter eggs macabros dos games
Victor Bianchin
04/12/2019 10h06
Easter eggs são uma fonte eterna de controvérsias, especialmente porque, hoje, qualquer coisa conta como um "easter egg", incluindo arquivos escondidos profundamente no código do jogo e cuja intenção nunca foi que fossem descobertos.
Existem os engraçadinhos, claro. E existem os que dão medo e assustam a gente, principalmente quando estamos sozinhos no quarto no escuro e existe sempre a chance de ter um espírito ou um alienígena escondido em algum lugar (tipo esse que tá atrás de você agora).
Eis os mais assustadores.
1) Half-Life 2 beta (2002-2003)
Na versão beta de Half-Life 2, há um arquivo de áudio chamado Trans6 que é bastante misterioso. O arquivo foi designado para ser usado em uma fase chamada Hazard01 em que Gordon Freeman andaria por vários corredores com imagens e sons perturbadores (a fase chegou a ser recriada por fãs). A ideia era testar se esse tom mais próximo ao horror poderia ser usado em Half-Life 2, mas o conceito acabou abandonado.
Trans6 seria apenas mais um áudio aleatório que sobrou e ficou jogado nos arquivos de um jogo, mas a comunidade acabou descobrindo algo sinistro. Essa faixa é uma versão distorcida e abafada de um arquivo de áudio que circula desde 1963 e que, supostamente, retrata os últimos momentos de vida de uma cosmonauta russa que morreu carbonizada quando sua nave explodiu ao fazer a reentrada na atmosfera.
A gravação original foi disponibilizada na década de 60 pelos irmãos Judica-Cordiglia, dois italianos que eram operadores de rádio amador. A dupla afirmava, na época, ter interceptado diversas transmissões soviéticas que comprovariam experimentos que resultaram na morte de cosmonautas.
Na gravação, divulgada em novembro de 1963, é possível ouvir uma voz feminina dizendo, em russo, frases como "isso não é perigoso?", "falem comigo!", "eu sinto calor", "eu vejo uma chama" e "eu vou cair?". O áudio é bem perturbador:
A versão do beta de Half-Life 2 (que, vale reforçar, nunca foi aplicada em nenhuma parte do jogo final e estava escondida sem uso nos arquivos) traz o áudio distorcido, de modo que a voz parece ser de um homem:
Não há comprovação de que as gravações dos irmãos Judica-Cordiglia sejam legítimas. Há boas chances de que tudo que eles vazaram tenha sido forjado. Mas é impossível bater o martelo. Será para sempre um mistério, assim como o fato de o áudio ter ido parar no beta de Half-Life 2.
2) Doom (2016)
Se você pegar uma das faixas da trilha-sonora do jogo Doom (a versão de 2016) e jogar num programa de edição de áudio para ver seu espectrograma (uma visualização física das ondas da música), encontrará algo BEM estranho.
Mais especificamente, isso aqui:
(Agradecimentos ao usuário do Reddit Tomcb pela imagem). A faixa em questão é Cyberdoom, que também é o nome de um dos monstros do jogo. É possível ver pentagramas na imagem e também o número 6 repetido, formando o famigerado 666. Esses elementos, obviamente, fazem referência ao tema demoníaco do jogo.
Mas não deixa de ser bizarro, e um tanto assustador, que os programadores tenham chegado a incluir imagens satanistas dentro dos arquivos do jogo. É o tipo de easter egg que vira notícia fora da mídia especializada e atrai pessoas desinformadas com tridentes e tochas pedindo a cabeça dos chefes do estúdio.
3) California Speed (1998)
California Speed é um jogo de corrida lançado inicialmente para arcades e depois portado para o Nintendo 64. Teria sido apenas mais um título mediano de corridas, não fosse por um detalhe macabro.
Na pista do Deserto de Mojave, há vários outdoors que podem ser vistos ao longo do trajeto. Um deles consiste apenas em um fundo branco com texto preto escrito em cima. Devido à baixa resolução dos gráficos da época e ao fato de que você passa pelo outdoor em alta velocidade, o texto é praticamente ilegível.
Porém, se você deixar a corrida de lado e parar o carro numa posição estratégica, é possível ler o texto. Eis o que ele diz:
"Às vezes… Deus leva mamães e filhotinhos embora… e às vezes… apenas às vezes… eu levo."
É isso aí, amigos e vizinhos, às vezes o outdoor na estrada está apenas vendendo refrigerante, e às vezes ele está traumatizando seu filho com mensagens sobre a morte.
A diferença é que, para este mistério, há uma explicação. Em 2015, quando o easter egg foi descoberto e viralizou, o site PopOptiq foi atrás de um dos programadores originais do jogo, Morgan Godat.
Godat contou que o port do jogo para N64 foi feito sob muita pressão, com muitos crunchs (horas extras compulsórias) para entregar tudo a tempo. Uma das demandas que a equipe recebeu de última hora foi trocar todas as texturas dos outdoors.
"Infelizmente, como estávamos numa situação apertada até mesmo pra fazer o básico do jogo funcionar no N64, nós não tínhamos nada pronto ou relevante para colocar nos outdoors. Então eu joguei uma textura falsa tão absurdamente idiota que de jeito nenhum alguém poderia confundi-la com um gráfico real", disse Godat ao site. "E agora, 18 anos depois, sou informado via YouTube que minha textura falsa nunca foi substituída".
Será que dá pra demitir alguém retroativamente?
4) Animal Crossing (2001)
O primeiro Animal Crossing, de 2001, estabeleceu todo o tom dessa série: você sai por aí socializando, plantando e juntando itens. Ou, como eu gosto de chamar: a rotina do meu ex-amigo Vicente quando ele fingia ser hippie pra não ter que fazer faculdade. Só que, em Animal Crossing, você não planta nada ilegal.
Há um easter egg um tanto sombrio no jogo, porém. Você precisava inserir no GameCube um segundo memory card que tivesse uma segunda cidade para você visitar. Então, era preciso entrar no trem para viajar de uma cidade para outra e, logo após embarcar, resetar o console. Vale lembrar que resetar um jogo no meio de uma atividade importante era algo muito desaprovado nos consoles antigos, pois incorria no risco de corromper os dados.
Pois bem. Quando o jogo reiniciava, havia uma chance de seu personagem estar sem rosto. Isso mesmo, sem rosto! Com cavidades escuras onde os olhos e a boca deveriam estar. Além disso, você perdia seus itens. Abaixo, o antes e o depois do avatar do youtuber SpaceHamster:
Há mais nessa história. Se você reparar, a versão sem rosto do seu personagem parece um giroide, ou seja, aqueles itens de mobília de Animal Crossing que possuem rostos com cavidades. E os giroides em si foram modelados a partir dos haniwa, estátuas de argila que eram feitas para rituais no Japão entre os séculos 3 e 6 e enterradas com os mortos.
Isso mesmo, esse jogo para criancinhas punia sua falta de cuidado com o software transformando você numa estátua mórbida.
Fica aqui nosso selo de aprovação, criança tem que aprender no trauma mesmo.
5) Cuphead (2017)
Ao iniciar Cuphead, alguns poucos jogadores se depararam com uma música bem tenebrosa tocando no menu principal. Você pode ouvi-la ao 1:10 do vídeo acima. Parecia ser algo esporádico e ninguém conseguia achar uma explicação.
Até que acharam: todo mundo que ouviu a estranha música estava pirateando o jogo. O áudio havia sido programado para ser só disparado caso uma verificação de autenticidade dentro do sistema do jogo falhasse.
Se você jogar o áudio da faixa num espectrograma, assim como com a faixa de Doom, uma imagem bem bizarra aparece:
Segundo o youtuber Oddheader, algumas pessoas até alegam conseguir ouvir, no áudio misterioso, uma voz falando "you stole" ("você roubou"). Isso é que é pobreshaming.
6) CarnEvil (1998)
CarnEvil foi um arcade produzido pela Midway (o estúdio hoje desativado que criou os primeiros Mortal Kombat) e basicamente consistia num shooter com tema de noite dos horrores num parque de diversões.
Ao fuçar nos arquivos digitais do jogo, dataminers descobriram uma série de imagens não usadas dentro do game e que provavelmente cumpriam a função de apenas preencher espaço.
Há uma foto em grupo dos desenvolvedores, telas não usadas e… uma bizarra montagem do famoso serial killer Jeffrey Dahmer segurando uma sacola com a cabeça decapitada de Neil Nicastro, CEO da Midway.
A montagem aparece várias vezes nos arquivos, em diferentes tamanhos. Ou Nicastro tinha algum desafeto bem grande na equipe ou o humor da galera era realmente sombrio…
7) The Witcher 3
Há uma missão secundária em The Witcher 3 chamada Uma Torre Repleta de Ratazanas. Nela, você precisa ir de barco até uma ilha assombrada e entrar numa torre abandonada para procurar o fantasma de uma mulher que morreu devorada por ratos.
Um típico dia de trabalho para Geralt, nós diríamos.
Alguns jogadores, no entanto, começaram a notar que, ao explorar a torre, conseguiam ouvir uma voz feminina gemendo, embora não houvesse nenhum personagem à vista.
Vários jogadores e youtubers começaram a investigar isso e, após muitas andanças sem rumo pela torre, descobriram que existe um ponto específico do lugar que, ao pisar, ativa a aparição de uma figura fantasmagórica ao fundo por apenas alguns milésimos de segundo.
A imagem no início do tópico é da aparição vista de longe, ou seja, do jeito que ela foi feita para ser enxergada. Utilizando o Modo de Foto do jogo e um pouco de criatividade, porém, os investigadores conseguiram capturar uns closes mais de perto. A assombração é assim:
Simpática, não? Além de essa aparição não ter nada a ver com a mulher-fantasma da missão, também surpreende o fato de que ela é um modelo 3D finalizado e texturizado, embora não tenha propósito nenhum.
A não ser, é claro, que o propósito seja fazer gente grande sujar as calças.
Sobre o Autor
Victor Bianchin é jornalista, já foi editor da revista Mundo Estranho e escreveu um almanaque de games. Ele tem um Rush de estimação e considera a técnica do button mashing algo subestimado.
Sobre o Blog
Em Control Freak você vai ficar por dentro das curiosidades, bizarrices e polêmicas saudáveis do universo dos games.