Os games que tentaram ser sexy e falharam miseravelmente
Victor Bianchin
30/08/2019 04h00
Já houve uma época em que as linhas que separavam o politicamente incorreto e o aceitável eram muito mais tênues e a tolerância do público, muito maior. Foram tempos em que o entretenimento nos deu coisas como a Banheira do Gugu, a Tiazinha, o sushi erótico do Faustão e tantas outras pérolas dos anos 90.
Os videogames, desde seus primórdios, também se permitiram liberdades com o erotismo. Mas, se na vida real já era difícil fazer certas insinuações sexuais funcionarem, imagine em um mundo de criaturas pixeladas. Confira alguns casos em que a sensualização deu ruim.
1) Land Stalker convida você para tomar banho com a vilã
Land Stalker era um RPG de ação japonês que rivalizava com a franquia Zelda – ou seja, era um jogo voltado ao público infanto-juvenil. O game saiu em 1992 no Japão e foi portado para o Ocidente em 1993. Na versão original, há uma sala dentro de um castelo na qual você pode entrar sem obstruções. Lá dentro, a vilã do jogo, Kayla, desfruta de um banho de espuma e lhe convida para se juntar a ela.
Se você diz sim para o convite, sua fada que o acompanha fica com ciúmes porque a vilã "parece mais velha do que eu" e teleporta você para fora da sala. Nenhum conteúdo sexual é mostrado, portanto. Mas a insinuação de que você e sua inimiga poderiam curtir um banho peladinhos estava lá.
Provavelmente querendo evitar polêmicas, a versão ocidental impede que você entre na sala colocando uma criada bloqueando a entrada. Mas, usando mods, jogadores conseguiram entrar e descobriram que o diálogo com Kayla foi totalmente traduzido, ou seja, a publicadora realmente considerou manter a cena do banho sexy para o público ocidental. Lembrando de novo que este era um jogo para crianças…
2) The Witcher 3 é o único jogo com sexo no unicórnio
No segundo livro da série The Witcher, que inspirou a franquia de videogames, somos apresentados ao unicórnio empalhado de Yennefer, uma das antigas amantes de Geralt. Segundo o livro, Yennefer gostava de transar em cima do tal unicórnio, embora Geralt não fosse muito fã, e um dia o objeto não aguentou a pressão e se partiu ao meio.
Esse contexto é importante para entender a cena de The Witcher 3 em que, após retornarem de uma missão, Geralt e Yennefer decidem se pegar em cima de um pobre unicórnio empalhado. Quem jogou The Witcher 3 sabe que Geralt encoxa tudo que se mexe, então uma cena de sexo a mais não é exatamente novidade. Mas é o unicórnio que é o diferencial da coisa. O unicórnio que, mesmo morto, ainda tem que passar por coisas desse tipo.
Pelo menos, no jogo, o unicórnio não se parte ao meio, permanecendo inteiro para futuras cavalgadas.
3) Fahrenheit tem sexo com zumbi
Fahrenheit (também chamado de Indigo Prophecy nos EUA) é um jogo da Quantic Dream lançado em 2005. Você controla dois policiais, Carla e Tyler, e também o assassino que eles estão perseguindo, Lucas. O modo como o crime foi cometido, com Lucas entrando em transe e perdendo o controle de seus atos, faz parte do mistério da história.
Em uma das cenas finais do jogo, antes da luta final, Carla e Lucas se encontram em um vagão de trem e rola um clima. Eles se beijam e ela nota "seus lábios parecem congelados". O motivo é bem simples: Lucas morreu em uma das cenas anteriores do jogo e virou um zumbi. Ele agora é um morto-vivo. Geladinho da silva. Mas Carla sabe disso e decide afogar o ganso mesmo assim.
4) Os peixes de Seaman transam conectando as antenas
Da série "heranças que o Dreamcast deixou para a humanidade", Seaman é um simulador de pets em que você usa sua voz para controlar peixes com rostos e membros humanos. Apesar do conceito estranhíssimo, o jogo foi bem recebido e ganhou status cult pela sua bizarrice.
Uma das coisas que dá para fazer com os tais peixes é transar. Mas, se você imaginou o Aquaman encoxando uma enguia ou algo do tipo, saiba que você está errado: o sexo de um seaman é muito, muito pior.
Quando eles resolvem ficar íntimos, os peixes de Seaman conectam suas antenas, que parecem tentáculos com ventosas na ponta, e o macho bombeia por elas algum fluido desconhecido. E ele ainda comenta: "que gostoso!".
E em breve podemos ter uma versão 4K hiper-realista dessa cena pois Seaman aparentemente irá ganhar uma continuação.
5) Princesa Peach tem um vibrador
Acredite quando a gente diz: dá para fazer uma matéria inteirinha só com insinuações sexuais, situações pervertidas e outras indecências espalhadas pela franquia Mario.
A Princesa Peach, coitada, costuma ser uma vítima frequente. Lembra da vez em que ela teve que realizar uma missão pelada para um computador superinteligente em Paper Mario? Pois é.
Em Super Mario RPG: Legend of The Seven Stars, você pode explorar o quarto de Peach. Se você procurar atrás da lareira, Mario irá encontrar um item descrito como "XXX da princesa Peach" (nos EUA, o "XXX" foi atenuado para um "???"). Dependendo do momento do jogo em que você estiver, você será repreendido ou por Grandma, uma toad que é criada da Princesa e que irá lhe oferecer um cogumelo se você "for cuidar da própria vida", ou pela própria Peach, que ficará brava e dirá que você não respeita sua privacidade.
"XXX" pode ser qualquer coisa, mas, dado o contexto, me parece bem claro que a Princesa Peach tem um brinquedinho para se divertir quando seu encanador favorito está em outras paradas.
6) Beat'Em & Eat'Em é um jogo de engolir fluidos
Um jogo de Atari que aposta no erotismo pixelado. A premissa de Beat'Em & Eat'Em é você controla duas moças peladonas cujo objetivo é alcançar, com a boca, os jatos de esperma que um sujeito está jogando do telhado de uma casa.
Quanto mais esperma você engole, mais rápido o jogo fica. De vez em quando, as moças lambem os beiços. E a cada 69 pontos você ganha uma vida. É tão absurdo que a gente não sabe nem o que dizer, só sentir.
7) Sexo pós-tortura enquanto seu filho está desaparecido em Heavy Rain
A Quantic Dream volta à lista por causa da cena bizarra incluída em Heavy Rain. Se você nunca jogou, eis um pouco de contexto: neste game, você é Ethan, um homem que está procurando seu filho desaparecido, Shaun. Você tem apenas três dias para encontrar Shaun ou ele irá morrer afogado pelas mãos do serial killer que o capturou.
A certo ponto da história, Ethan é torturado, escapa e volta para o hotel onde está hospedado. Todo estropiado e com o relógio correndo, ele decide não perder tempo e continuar procurando o filho, certo? Ops, nada disso! Na verdade, ele para tudo para transar com uma jornalista que está cobrindo o caso.
Só isso já seria o suficiente para tornar a cena um puro creme de constrangimento, mas Heavy Rain vai além enchendo a cena de eventos de resposta rápida (quick-time events) em que você tem que beijar a moça, tirar a roupa dela, passar a mão pelo corpo e afins.
Era pra ser um momento bonito de entrega emocional, mas acaba sendo o equivalente a ver dois cachorros da rua cruzando na sua calçada.
8) Ride to Hell coloca dois manequins sem expressão para transar e acha ok
Ride to Hell: Retribution é um jogo horrível lançado em 2013 que, se você tiver sorte, nunca precisará jogar. A melhor parte desta porcaria provavelmente são suas cenas de sexo mesmo, mas pelo motivo errado.
Os programadores, que provavelmente receberam como salário uma paçoca e um artesanato de camelô, não se deram ao trabalho de criar modelos sem roupa para os personagens, então todo mundo transa completamente vestido. Isso é um problema. O outro é que os personagens não mudam suas expressões faciais durante o ato e ficam parecido manequins mortos por dentro.
Mas hey, vai que tem gente por aí que acha excitante ver dois bonecos articulados convulsionando? Cada um, cada um.
Sobre o Autor
Victor Bianchin é jornalista, já foi editor da revista Mundo Estranho e escreveu um almanaque de games. Ele tem um Rush de estimação e considera a técnica do button mashing algo subestimado.
Sobre o Blog
Em Control Freak você vai ficar por dentro das curiosidades, bizarrices e polêmicas saudáveis do universo dos games.