Sete games em que a "liberdade de escolha" gerou discórdia
Games envolvendo a tomada de decisões são cada vez mais frequentes entre os títulos AAA. Sejam eles o foco do gameplay, como nos títulos da Telltale, ou um recurso menor dentro da história, é fato que a noção de alterar o curso da história de acordo com a personalidade do jogador virou uma qualidade desejável no mercado. Em vez de customizar apenas skins e armas, você agora pode efetivamente moldar a história de acordo com seu perfil.
O que não impede, é claro, que haja problemas pelo caminho. Conheça algumas dessas situações bizarras em que o recurso de tomar decisões acabou dando ruim.
1) Assassin's Creed Odyssey te obriga a ser hétero
O jogo da Ubisoft inovou a franquia ao permitir que você jogasse como um homem, Alexios, ou uma mulher, Kassandra (embora a história canônica seja a dela). Outra novidade foi que, ao interagir com alguns NPCs, você pode ser afetuoso e até ter relações sexuais. Esses relacionamentos, no entanto, são sempre passageiros e se encerram quando a missão em questão acaba. Em Odyssey, você é o rei do sexo casual.
A coisa mudou um pouco de figura com o segundo episódio do DLC O Legado da Primeira Lâmina, lançado em janeiro de 2019. Nessa história extra, seu personagem se apaixona pelo filho ou filha do assassino Darius e estabelece uma relação de longo prazo com ele/ela, inclusive indo morar junto com a pessoa e tendo um filho.
O problema começou porque, diferentemente das outras interações afetivas do jogo, essa não era opcional, o que levou os jogadores a xingarem a Ubisoft na internet por trair seu próprio discurso de "faça o que quiser", muito alardeado na campanha do jogo. A outra questão é que, como as interações afetivas antes eram sempre opcionais, o jogador podia escolher ter apenas relações homo (algo que dialoga com a história do mundo real, já que a maioria das pessoas na Grécia antiga era bissexual). Em O Legado da Primeira Lâmina, sua relação precisa ser heterossexual, sem discussão.
Após as reações inflamadas da comunidade, a Ubisoft alterou os diálogos do DLC para que o jogador tenha a opção de se relacionar com o filho/filha de Darius apenas por interesse, para procriar e dar continuidade à sua linhagem.
2) Fallout 3 obriga você a gastar mais dinheiro
No final do jogo, você precisa ir até a sala onde o purificador está localizado e digitar um código para impedir que ele exploda. Fazendo isso, você salva todo mundo, mas seu personagem morre. Também há a opção de mandar Sarah Lyons, uma NPC que te acompanha, para fazer o serviço, mas aí quem morre é ela. Decisão difícil, né?
A questão é que há uma saída em que ninguém morre, mas, para acessá-la, você precisa de dinheiro da vida real. Adquirindo o DLC Broken Steels, você ganha a opção de mandar um aliado imune à radiação para realizar o serviço. Dessa forma, você e Sarah vivem e tudo fica bem. Se você perguntar pra gente, nós diríamos que essa deveria ser uma opção disponível para todos, mas a Bethesda preferiu bloqueá-la para quem pode pagar uma grana a mais.
Essa não é a única polêmica ligada ao DLC. Muita gente apontou que apenas comprando Broken Steels é possível ter acesso ao "final real" do jogo. Haja ganância!
3) Dragon's Dogma te dá um namorado surpresa
Este RPG medieval da Capcom, embora tenha passado em branco para muita gente, acabou ganhando status de cult na internet, especialmente por causa de seus ótimos combates em tempo real e seu sistema de melhora de personagens.
Muita gente, porém, ficou bem surpresa com o final. Isso porque, ao longo do jogo, você pode cortejar qualquer NPC oferecendo presentes ou conversando. O sistema guarda essas informações e calcula sozinho um "interesse romântico" para seu personagem com base em quem você mais interage. O problema é que esse cálculo é invisível e muita gente só descobriu que ele existia na parte final da história. Pior: mesmo que você saiba que o sistema existe e escolha cortejar um personagem específico, o game pode simplesmente escolher outro namorado(a) pra você.
No enredo, o dragão que é o grande vilão da história captura seu interesse romântico e você precisa resgatá-lo(a). E muita gente chegou nessa parte e descobriu que seu parzinho eram pessoas improváveis como o dono da taverna, vendedores ou mesmo o bobo-da-corte bigodudo do castelo. As cutscenes com esses NPCs são simplesmente hilárias.
E tem mais: depois de cumprir a missão final, ainda há uma breve cena sexual envolvendo seu personagem e o NPC que o jogo assinalou para ele como interesse romântico. Não tem como escapar! Nada explícito, mas suficiente para fazer você se perguntar "WTF?!?" por um bom tempo.
4) Os finais diferentes de Mass Effect 3 são iguais
Este jogo de ação, lançado em 2012, deveria ser a conclusão eletrizante de uma trilogia em que as decisões que você toma são essenciais para definir o desfecho da história. Só que não foi bem assim. Muitos jogadores notaram que, independentemente do caminho que você tome com suas decisões, os três finais possíveis são idênticos. Além disso, nenhum deles é muito positivo ou conclusivo, deixando os jogadores decepcionados.
Isso levou os fãs a organizarem a campanha online "Retake Mass Effect" ("retomem Mass Effect") exigindo que a BioWare criasse um final melhor para o jogo. O descontentamento era tão grande que queixas foram reportadas a órgãos oficiais sob a alegação de propaganda enganosa. Um mês após o lançamento do jogo, a BioWare resolveu atender os fãs e anunciou que a história seria continuada em uma expansão. Esse DLC gratuito, chamado de Extended Cut, foi lançado três meses do jogo e trouxe uma conclusão satisfatória.
A polêmica foi uma das mais marcantes do mundo dos jogos no que diz respeito ao conteúdo não agradar a comunidade. Tanto que essa história ainda é muito lembrada em listas de "grandes polêmicas", como esta que você está lendo.
5) Spec Ops: The Line quer que você seja um genocida
Matar hordas de oponentes não é um conceito novo em videogames e nem algo que levanta muitas polêmicas – afinal, o conceito de "inimigo" serve para isso. Mas em Spec Ops: The Line, a situação é um pouco mais complicada. Em certo ponto da história, você precisa escolher entre bombardear as tropas inimigas com fósforo branco (um agente químico incendiário) ou tentar acabar com elas na raça. Se você usar o fósforo, os inimigos caem facilmente, mas você também acaba explodindo um bunker cheio de civis desarmados. O que fazer?
Essa decisão, na verdade, é falsa: não há como passar desta parte sem usar o fósforo e matar os civis. Muitos jogadores ficaram revoltados com o fato de que os inocentes são mortos mesmo se você tentar mirar longe deles. Ou seja: você não tem opção a não ser tornar-se um genocida. A situação é agravada pela cutscene que é exibida em seguida, mostrando uma mãe segurando sua filha, ambas gravemente queimadas, entre as vítimas carbonizadas.
O roteirista principal do jogo, Walt Williams, deu entrevistas dizendo que The Line tinha o objetivo de ser um retrato realista e cru da guerra. "Nós queríamos que as pessoas pensassem sobre a guerra, que elas pensassem em por que elas sentam e jogam um jogo de guerra por diversão", disse ele ao Ars Technica. Segundo ele, a ideia era que o jogador se sentisse sobre o jogo da mesma forma que o personagem se sente sobre a guerra.
Bom, deu certo! Por causa dessa cena, o jogo é lembrado até hoje como traumático, "o mais brutal já feito" e "gerador de pesadelos".
6) O minigame de tortura em GTA V causa protestos
Achar polêmicas na série Grand Theft Auto é mais fácil que achar sujeira na política brasileira, mas, ei, o jogador sabe bem no que está se metendo. Isso não impede, porém, que, a cada lançamento, a série atraia críticas de entidades e ativistas devido ao modo que retrata situações de violência, preconceito e abuso.
Em GTA V, há uma cena em que o protagonista, Trevor Philips, precisa torturar um personagem em busca de informações sobre um fugitivo azerbaijano. Ele eletrocuta o sujeito, arranca um de seus dentes, bate nele com uma chave inglesa e o afoga em água. O que diferencia essa cena de outras no próprio jogo é que você é obrigado a participar da tortura por meio de minigames, por exemplo rodando uma alavanca para arrancar o dente ou segurando botões para aplicar o choque. A missão não pode ser pulada ou contornada, pois faz parte da história principal.
A cena gerou polêmica por parte de quem a gente já esperaria, como políticos e associações anti-tortura. Mas muitos gamers também se mostraram incomodados com a situação, iniciando um debate na internet sobre se GTA V havia ido longe demais ou não.
7) Jogadores de Detroit: Become Human pedem patch com nova escrava
Quando você joga Detroit: Become Human pela primeira vez, você é apresentado a Chloe, uma androide que explica como os menus funcionam e reage às suas escolhas dentro do jogo. Sempre que você volta para o menu principal, Chloe comenta as ações que você tomou e apresenta uma perspectiva diferente para as questões filosóficas do jogo.
[Não leia a seguir se não quiser SPOILERS do final do jogo]
Quando você termina o game, porém, Chloe lhe apresenta um questionamento. Após assistir você jogar por todo esse tempo, ela desenvolveu também um desejo de ser livre e viver uma vida própria. Chloe então pergunta ao jogador se ele concede permissão para que ela se liberte. Se você escolher "não", ela reseta a própria inteligência artificial para esquecer seu próprio desejo de liberdade. Se você escolher "sim", ela vai embora e não volta mais.
A questão é que, quando você liberta Chloe, a presença dela, incluindo seus comentários, some do jogo, o que deixou parte dos jogadores insatisfeitos. Pressionada pela fanbase, a Quantic Dreams adicionou um patch que permite comprar uma nova Chloe após libertar a primeira – o que significa, essencialmente, escravizar uma segunda inteligência artificial. Ironicamente, essa opção altera as consequências éticas e morais da sua decisão de libertar Chloe em primeiro lugar, o que conversa com toda a temática do jogo, em que androides são substituíveis.
Segura esse mindfuck!
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