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Sucessores espirituais: 6 sequências que viraram outra coisa

Victor Bianchin

21/07/2020 08h00

Nem sempre o jogo que sai é o jogo que os desenvolvedores queriam fazer. Às vezes, é ambição demais para recursos de menos e o produto final é apenas o rascunho de algo muito maior. Acontece com todos nós, não é mesmo?

Em alguns casos, porém, a segunda chance existe e o projeto consegue alcançar seu potencial. Confira 6 jogos que não eram para ser da forma que ficaram.

1) Prince of Persia virou Assassin's Creed

Vamos começar pelo caso mais famoso. Já é fato bem conhecido que o primeiro Assassin's Creed, de 2007, originalmente iria ser uma sequência para a franquia Prince of Persia. Ou quase isso: na verdade, Prince of Persia: Assassins, seria um spin-off em que você jogaria como um guarda-costas encarregado de proteger um príncipe.

O desenvolvimento do jogo foi tão longe que, em certo ponto, já não fazia mais sentido mantê-lo conectado à franquia Prince of Persia. Por isso, a Ubisoft transformou o game em um produto separado, embora a herança da franquia-mãe seja óbvia, com as acrobacias e o parkour lembrando bastante a saga do príncipe persa.

E vale dizer que Assassin's Creed superou a franquia original, já que Prince of Persia não tem um jogo grande já há 10 anos…

2) Wasteland virou Fallout

Fallout, a franquia pós-apocalíptica que gerou um dos games mais polêmicos de 2018 – e aqui vamos usar "polêmico" como um eufemismo, porque somos educados -, na verdade é uma sucessora espiritual de Wasteland (1988).

Wasteland foi um RPG isométrico para computadores que, mesmo com as limitações da época, conseguiu ser inovador, utilizando conceitos como o mundo aberto. Infelizmente, as sequências originais do jogo acabaram sendo canceladas, mas a premissa e o conceito sobreviveram em Fallout, que foi desenvolvido pelo mesmo estúdio, o Interplay.

Em Fallout New Vegas, há até um monumento que mostra um Desert Ranger de Wasteland cumprimentando um Nevada Desert Ranger de Fallout – um belo easter egg para os fãs das duas séries.

Felizmente, Wasteland deu a volta por cima e ganhou uma sequência em 2014, Wasteland 2, feita com financiamento coletivo. Um terceiro jogo está programado para 2020.

3) Sweet Home virou Resident Evil

Sweet Home é a adaptação para videogame de um filme de horror japonês de mesmo nome e foi lançado em 1989 para o Famicom (o NES japonês).

Embora fosse um grande desafio fazer um jogo de horror para uma plataforma 8-bit, Sweet Home até que se saiu muito bem. Tanto é que a Capcom, desenvolvedora do game, aproveitou sua boa recepção e reciclou muitas das ideias em Resident Evil, de 1996.

Aliás, antes de a história dos mortos-vivos ganhar vida própria (viu o que a gente fez aqui? hehe), Resident Evil era para ser um remake de Sweet Home.

Há muitas semelhanças: a mansão abandonada como cenário principal, o inventário com capacidade limitada, a necessidade de coletar itens específicos para avançar e até mesmo o uso de animações de porta abrindo para transicionar entre os ambientes.

Como a Capcom atualmente anda sendo a louca dos remakes, quem sabe dê pra sonhar com uma versão atualizada de Sweet Home?

4) Narbacular Drop virou Portal

Nunca ouviu falar de Narbacular Drop? Normal! Esse game nunca foi lançado formalmente para o público. Ele foi desenvolvido como um trabalho de conclusão de curso de estudantes da DigiPen em 2005.

Trata-se de um game em primeira pessoa em que você encarna uma princesa que precisa escapar de uma masmorra. Para fazer isso, ela conta apenas com seu superpoder de criar portais nos ambientes, os quais pode usar para atravessar.

O game é curtinho (você termina em menos de 10 minutos), mas impressionou tanto que os criadores foram contratados pela Valve e acabaram transformando a ideia em Portal. É inegável a semelhança entre os dois títulos, que compartilham a mesma mecânica e até algumas áreas parecidas.

5) Marathon virou Halo

Marathon é uma trilogia de jogos que a Bungie desenvolveu antes de criar Halo. As semelhanças são inegáveis: ambos são jogos de tiro em primeira pessoa com cenário especial, inimigos alienígenas e inteligências artificiais que guiam seu progresso. A lista de referências a Marathon nos jogos Halo é gigantesca.

Embora exista debate na comunidade sobre se Halo foi concebido para fazer parte do universo de Marathon, é fato que ele originalmente não teria quase nada a ver com aquela franquia – até porque Halo inicialmente seria um jogo de estratégia em tempo real, estilo Age of Empires.

Só que aí o jogo foi se transformando até virar o shooter que tanto amamos – e que tanto tem a ver com o primeiro sucesso da Bungie. Coincidência?

6) Super Mario RPG virou Paper Mario

Se você tem algum parente que tinha SNES nos anos 90, essa pessoa com certeza jogou (e já te falou muito sobre) Super Mario RPG: Legend of The Seven Stars. Essa parceria entre Nintendo e SquareSoft (que viraria Square Enix em 2003) foi uma mistura bem-sucedida de ação e RPG, trazendo o melhor que as duas companhias tinham a oferecer (e também algumas piadas sujas).

Só que, nos bastidores, a história não era tão bonita. A Square havia desenvolvido seus games exclusivamente para os consoles Nintendo até aquele momento, mas estava prestes a dar as costas para a casa do Mario. Isso porque a desenvolvedora estava ansiosa para trabalhar com os CDs como mídia física em vez dos cartuchos, que eram mais caros e limitados. Mesmo sabendo disso, a Nintendo esnobou os CDs e decidiu usar cartuchos como mídia para o Nintendo 64.

A Square, provavelmente se sentindo traída, fez as malas e, pouco depois do lançamento de Super Mario RPG, anunciou que passaria a desenvolver jogos exclusivamente para o PlayStation.

Isso atrapalhou os planos da Nintendo de fazer uma sequência, mas o golpe final foi mesmo a chegada de Super Mario 64 apenas cinco meses depois. De repente, Super Mario RPG já não era mais novidade, ofuscado por um dos jogos mais populares de todos os tempos.

A Nintendo começou a trabalhar em continuações, mas, devido a uma disputa com a Square, não podia usar o nome "Super Mario RPG" e nem o mundo daquele jogo. Por isso, as sequências (Paper Mario no N64 e Mario & Luigi no DS) acabaram virando sucessores espirituais, com muitas diferenças em relação a RPG.

Sobre o Autor

Victor Bianchin é jornalista, já foi editor da revista Mundo Estranho e escreveu um almanaque de games. Ele tem um Rush de estimação e considera a técnica do button mashing algo subestimado.

Sobre o Blog

Em Control Freak você vai ficar por dentro das curiosidades, bizarrices e polêmicas saudáveis do universo dos games.