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Cancelados! 9 jogos de fãs que foram interrompidos devido a copyright

Victor Bianchin

22/02/2020 15h26

Responda rápido. Qual instituição funciona melhor na indústria do entretenimento: os estagiários que de fato leem as HQs que depois são "adaptadas" para os filmes de herói ou os advogados defensores do copyright?

A resposta certa é "os advogados" e se você discordar provavelmente eles achar um motivo pra processar você também.

Claro, a indústria está de boa com paródias pornô, adiamentos infinitos, práticas predatórias com microtransações e correlações com jogos de azar, mas os FÃS DO JOGO criarem O PRÓPRIO JOGO sem compensação financeira e sem pagar milhões pelos direitos?!? Aí não dá.

Confira 9 exemplos em que o copyright esteve acima de qualquer bom senso.

1) Pokémon Uranium


Quando se trata de proteger cegamente sua propriedade intelectual, mesmo que isso signifique trair a comunidade, ninguém é pior que a Nintendo. A casa do Mario distribui cartas de "cesse e desista" do mesmo jeito que a MTV distribui reality shows ruins: o tempo inteiro.

Em 2016, a coisa ficou feia a ponto de a pressão da Nintendo obrigar o Game Awards (aquela premiação linda e catastrófica) a retirar dois concorrentes da categoria "Melhor Criação de Fã". Um deles era o Project A2MR, um remake de Metroid 2, e o outro era Pokémon Uranium.

Aliás, Uranium é um caso bastante simbólico. Se você considerar que ele foi desenvolvido ao longo de NOVE anos por apenas DUAS pessoas, o que ele construiu era realmente colossal: uma região nova para explorar, 150 novos Pokémon com designs inéditos, uma nova história, modo online para trocar e batalhar e muito mais.

O jogo não tinha fins lucrativos e, apenas alguns dias após seu lançamento em 2016, conseguiu mais de 1,5 milhão de downloads. Embora os criadores nunca tenham sido contatados pessoalmente pela Nintendo, eles decidiram remover os links para download de seu site após ficarem sabendo que diversos outros sites que hospedavam o jogo receberam avisos judiciais.

Foi uma jogada esperta: eles evitaram o processinho ao mesmo tempo em que tinham a certeza de que o jogo já estava circulando na web de modo irreversível.

2) Chrono Trigger: Crimson Echoes

Feito a partir de um ROM hack do primeiro jogo, Crimson Echoes seria uma ponte entre o Chrono Trigger original, de 1995, e Chrono Cross, de 2000. Os desenvolvedores eram majoritariamente membros de um fórum de fãs e se denominaram "Kajar Laboratories" quando começaram a tocar o projeto. Echoes passou cinco anos em desenvolvimento, de 2004 a 2009, e a versão final estava programada para ter 35 horas de gameplay e 10 finais diferentes.

"Estava" é a palavra-chave aqui. O jogo deveria sair no dia 31 de maio de 2009, mas, no dia 8 daquele mês, a Square Enix apareceu com a cartinha de "cesse e desista", obrigando os desenvolvedores a cancelarem o projeto sob a ameaça de serem processados.

No entanto, há pelo menos duas versões vazadas na internet, uma alpha e uma beta, que são jogáveis.

3) Fighting Is Magic


Por algum motivo misterioso do mundo em que vivemos, o desenho My Little Pony: A Amizade é Mágica é um fenômeno que ultrapassa bastante o seu público-alvo, sendo querido pela comunidade furry e por fãs de pornografia, entre outros.

É lógico que, em algum momento, iria aparecer um joguinho de luta com os pôneis fofinhos. Fighting Is Magic era exatamente isso, um game 2D criado pelo estúdio indie MANE6. O que chamava atenção nele era sua qualidade, com animações bem-feitas, gráficos atraentes e gameplay divertido.

Fighting Is Magic ficou tão famoso que atraiu a atenção do EVO, o maior campeonato de jogos de luta do mundo. Em 2013, o EVO organizou uma gincana para escolher um dos oito games que participariam do evento naquele ano. Era bem simples: o game que tivesse mais doações em seu nome feitas para a Fundação de Pesquisa sobre o Câncer de Mama ganhava a vaga.

Fighting Is Magic fez parte da campanha, que arrecadou, no total, US$ 225 mil e foi vencida por Super Smash Bros. Melee.

A Hasbro, que detém os direitos sobre a franquia, entrou com a ordem de "cessar e desistir" no começo de 2013 e a MANE6 fez um post dizendo que a ação "não pode ser realisticamente contestada".

Em vez de cancelar o game, porém, os desenvolvedores o renomearam para Them's Fighting Herds, trocaram os personagens para outros com design original e o jogo segue ativo e sendo atualizado.

4) O remake de Metal Gear

Em 2014, um grupo de desenvolvedores chamado Outer Heaven Project Team anunciou que estava produzindo um remake do primeiro Metal Gear, de 1987. O jogo utilizaria a engine Unreal 4 e teria gameplay similar aos jogos mais recentes da série.

Por incrível que pareça, a Konami apoiou o projeto. Ou pelo menos foi isso que disse Gleen Eckhaut, um dos desenvolvedores, num post na página do projeto, hoje deletado. Segundo ele, o grupo "recebeu comunicado da Konami [dizendo] que a empresa está feliz em permitir que nós continuemos o desenvolvimento do remake, contanto que não abusemos da questão de direitos autorais (ou seja, fazermos lucro pelo projeto ou recebermos doações)".

A empolgação foi tanto que o Outer Heaven chamou David Hayter (dublador oficial de Solid Snake entre 1998 e 2004) para fazer dublagem para um trailer e chegou a postar vagas de emprego para recrutar mais desenvolvedores para o time.

Isso tudo foi em junho. Dois meses depois, em agosto, a brincadeira acabou. Em uma entrevista, outro membro do time, Ian Ratcliffe, declarou que "infelizmente, não podemos continuar com o projeto. Parece que o pessoal da Konami não conseguiu chegar a um consenso, então não tiveram escolha em cancelar nosso projeto".

5) Fullmetal Alchemist: Bluebird's Illusion

Esta visual novel era um doujinshi (feita por fãs) e chegou a ser lançada fisicamente no Japão e comercializada.

Não existem muitas informações disponíveis sobre este jogo na internet, mas o que circula é que o grande problema não foi o uso dos personagens e elementos do anime, mas sim as músicas da trilha sonora, que foram quase todas adaptadas de outras faixas já existentes.

Ainda segundo a internet, as cópias físicas deste jogo circulam a peso de ouro em sites de leilão.

6) Duke Nukem 3D: Reloaded

Em 2010, um desenvolvedor chamado Frederik Schreiber começou a cogitar fazer um remake de Duke Nukem 3D. Ele criou um mapa de teste, tirou prints da tela e mostrou na internet. Só isso gerou hype suficiente para que ele entrasse em contato com a Gearbox, dona dos direitos de Duke Nukem, e conseguisse permissão oficial para desenvolver o game.

O estúdio de Schreiber, chamado Interceptor Entertainment, começou a tocar o projeto, que inicialmente se chamava Duke Nukem: Next Gen e depois virou Duke Nukem 3D: Reloaded. No entanto, apenas um ano depois, em 2011, a produção foi paralisada devido a problemas com direitos.

Em uma entrevista em 2013, Schreiber disse que o motivo do atraso foi o lançamento (e o fracasso) da bomba Duke Nukem Forever em 2011. Ele alegou que Reloaded era melhor que Forever e, portanto, a Gearbox não poderia lançar um jogo que fizesse seu próprio produto parecer mal.

7) Yu-Gi-Oh! Dueling Network

Este game era baseado no famoso jogo de cartas colecionáveis que fez muito sucesso na década de 00 e manteve uma fanbase fiel desde então.

Dueling Network surgiu em 2011 e logo se tornou um ponto de encontro popular para fãs. Além de estar sempre atualizado com as cartas recém-lançadas, o serviço também permitia aos novatos aprender as regras com facilidade e sem ter que gastar dinheiro com as cartas reais. No final, Dueling Network era uma grande ferramenta para fidelizar a marca Yu-Gi-Oh!.

Em 2016, o site oficial retirou os links para download alegando "razões jurídicas". Os servidores continuaram ativos, entretanto, e o jogo continuou sendo disponibilizado via links clandestinos até ser encerrado em definitivo algumas semanas depois.

A responsável pela ação jurídica, surpreendentemente, não foi a Konami, dona dos direitos de Yu-Gi-Oh! nos games, mas sim a Nihon Ad Systems, empresa que detém os direitos das imagens nas cartas e dos personagens envolvidos.

O fórum de Dueling Network continuou ativo para a comunidade até sofrer um ataque hacker em 2017 que vazou os dados de 6,5 milhões de usuários. Foi a última pá de cal.

8) Apeiron

Apeiron foi anunciado em 2016 como um remake de Star Wars: Knights of The Old Republic (2003) feito com a engine Unreal 4. O grupo de fãs que idealizou o projeto estabeleceu que Apeiron funcionaria como um mod, ou seja, você precisaria ter o jogo original para fazê-lo rodar. Desta forma, eles acreditaram que estariam protegidos contra ações legais.

Obviamente, as coisas não foram bem assim. Em 2018, a Lucasfilm emitiu uma ordem de "cessar e desistir" para os desenvolvedores exigindo, inclusive, que o código do jogo fosse destruído.

"Após alguns dias, eu exauri minhas opções para manter Apeiron em desenvolvimento. Nós sabíamos que esse dia era uma possibilidade. Sinto muito e que a Força esteja com vocês" – dizia o derradeiro tweet da desenvolvedora, Poem Studios, sobre o ocorrido.

A parte boa é que a Poem continua existindo como estúdio independente e trabalhando em outros games.

9) O remake de Streets of Rage

Em abril de 2014, um grupo espanhol chamado Bomber Games lançou de graça para PC um ousadíssimo remake de Streets of Rage construído do zero, sem usar nenhuma linha de código do jogo original.

Esse Streets of Rage, desenvolvido ao longo de oito anos, tinha mais de 100 fases, 19 personagens jogáveis, 64 inimigos e uma trilha sonora com 76 faixas. A história era uma amálgama dos três jogos originais da franquia. Uau!

A Sega, que adora fazer uma cagada aqui e outra ali, acabou ordenando que os links fossem tirados do ar, embora o jogo já estivesse circulando há tempo suficiente para poderem ser baixado sem dificuldades.

Enquanto isso, a gente que é trouxa tá esperando um jogo oficial novo de Streets desde 1994. Supostamente, chega este ano. SUPOSTAMENTE.

Sobre o Autor

Victor Bianchin é jornalista, já foi editor da revista Mundo Estranho e escreveu um almanaque de games. Ele tem um Rush de estimação e considera a técnica do button mashing algo subestimado.

Sobre o Blog

Em Control Freak você vai ficar por dentro das curiosidades, bizarrices e polêmicas saudáveis do universo dos games.