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Troféu Game Over: os piores momentos do mundo dos games em 2019

Victor Bianchin

01/01/2020 04h00

2019 foi um ano em que não faltaram bizarrices relacionadas a videogame. Tivemos o anel de noivado oficial de Pokémon, uma youtuber vendendo sua água de banho, o periquito que imita os sons do Switch, as cuecas chinesas que usam fotos do Gabe Newell na embalagem e aquela polêmica ridícula sobre o tamanho dos peitos da Tifa no remake de Final Fantasy VII.

Realmente, um ano difícil. Cheio de jogos legais, mas difícil.

E nós nem começamos ainda. Veja abaixo nossa escolha dos 12 momentos mais horríveis/bizarros/deprimentes do mundo dos games em 2019. É a primeira edição do Troféu Game Over do Control Freak!

12) Político posta vídeo de GTA V achando que é real

Em julho, um político paquistanês chamado Khurram Nawaz Gandapur publicou no Twitter o vídeo de um avião desviando de um caminhão de combustível na pista de pouso e evitando, por um triz, a colisão.

"Difícil desvio de uma aeronave, o qual poderia ter resultado em um grande desastre. Salvação milagrosa devido à presença de mente do piloto", dizia a legenda escrita por Gandapur, que é secretário geral do partido Awami Tehreek.

O único problema é que o vídeo era falso: tratava-se de uma captura de GTA V produzida por um canal de YouTube, chamado UiGamer, que é especialista em criar situações arriscadas com aviões dentro do jogo.

Gandapur deletou o tweet, mas o print é eterno.

11) Bethesda esquece de registrar site de Fallout e paga o preço

O jogo Fallout 76, lançado em 2018, foi massacrado pela crítica e pelo público, tornando-se um marco de game ruim dos tempos modernos.

A Bethesda, porém, recusou-se a tomar vergonha na cara e continuou promovendo o jogo em 2019, o que rendeu várias histórias maravilhosas, como a edição premium que tinha um capacete com um material que podia mofar, ou então a varejista alemã que começou a dar cópias do jogo com quase todos os seus produtos, incluindo o bundle do Xbox que já vinha com uma cópia do game.

Isso mesmo, você comprava um Xbox com Fallout 76 e ganhava outro Fallout 76. E provavelmente não jogava nenhum dos dois.

Uma das melhores histórias, porém, veio quando a Bethesda anunciou o serviço Fallout First (mais sobre ele em um minuto). A empresa simplesmente esqueceu de registrar o site falloutfirst.com – o que seria, assim, o básico do básico, não é mesmo?

Resultado: um fã raivoso registrou o site para si e o transformou em um grande mural criticando o serviço Fallout First e o jogo Fallout 76.

Já começa assim: "Desde que Fallout 76 foi lançado, nós não fizemos efetivamente nada para, com base no seu feedback de merda, melhorar e evoluir a experiência. É por isso que estamos animados em lançar o Fallout FUCK YOU First (…) que também inclui um monte de itens inúteis e bônus de culto, os quais você pode encontrar todos no meu prepúcio".

A página gloriosamente continua no ar no endereço oficial! Mas, se um dia for removida, você pode encontrá-la em todo seu esplendor no Wayback Machine.

10) Moschino lança roupas de The Sims na vida real

Em outubro, a marca de roupas Moschino fez uma parceria com a EA para lançar uma linha de roupas no mundo real inspirada nas skins que fez pro jogo The Sims 4.

Basicamente, são moletons, vestidos, camisetas e acessórios que ultrapassam, fácil, a casa dos 200 dólares, embora quase todos sejam absolutamente horríveis, com estampas pixeladas e de cores berrantes.

Recomendamos ir à página oficial dos produtos para rir dos designs e dos preços, mas também colocamos abaixo as fotos do ensaio de divulgação porque elas são boas demais para não serem mostradas.

Chiquérrimo.

9) Macaco vomita em desenvolvedor de Sea of Thieves

Em outubro, alguns desenvolvedores do jogo Sea of Thieves se juntaram para fazer uma live sobre as novidades do game, que eram uma loja nova e a possibilidade de comprar animais de estimação.

Para dar um molho à live, havia um macaquinho fazendo companhia aos apresentadores, pulando feliz de ombro em ombro.

Ia tudo muito bem até que o animal resolveu vomitar no rosto, peito e braço de um dos desenvolvedores, Jon McFarlane.

O momento está eternizado aos 27:46 deste vídeo:

Fica a dica: animais não se importam com seu branding.

8) Queda de energia na Venezuela causa crise em RuneScape

Esta notícia, infelizmente, não é engraçada, mas achamos digna de ganhar o Troféu Game Over por motivos de "veja só o lixo que este mundo está se tornando".

A crise econômica na Venezuela, como se sabe, deixou milhares de famílias sem emprego e desamparadas devido ao fracasso do governo em prover condições básicas de vida para seus cidadãos.

Uma forma que os venezuelanos encontraram para contornar o desemprego é farmar ouro no RuneScape, aquele MMORPG lançado em 2001 e que faz certo sucesso até hoje. Os venezuelanos matam Dragões Verdes e depois vendem o loot no marketplace do jogo, ganhando aproximadamente meio dólar para cada hora farmando.

Há estimativas de que até 1,8 milhão de venezuelanos vivem a partir da renda de farmar RuneScape.

Em março, um apagão generalizado na Venezuela impediu que muitos desses trabalhadores jogassem RuneScape e farmassem o dinheiro que usam para sustentar suas famílias.

Com isso, a oferta dos loots despencou no mercado do jogo e os preços subiram, conforme pode ser visto na imagem acima, que registra as variações no preço do item "Green dragonhide" (cortesia do Reddit). Descobriu-se que os venezuelanos eram responsáveis por até 70% das vendas de alguns itens.

7) Jogadores de EVE Online criam barreiras para impedir os outros de jogarem missões solo

Em uma das muitas situações bizarras criadas pelos jogadores de EVE Online, jogadores das duas facções rivais dentro do mundo do jogo se organizaram em uma ação para impedir que outros jogadores acessem NPCs (personagens não-jogáveis) que dão missões solo.

O que ocorre é o seguinte: no mundo aberto de EVE Online, você se junta a uma facção e pode tanto guerrear pelos territórios junto com ela como pode se concentrar em missões solo dadas por esses NPCs.

Só que, fazendo as missões solo, você ganha muito mais pontos de lealdade do que as pessoas que guerreiam livremente.

O problema é que, com isso, os pontos de lealdade se desvalorizam. E foi aí que o pessoal que gosta de guerrear loucamente teve a ideia de realizar esse "bloqueio".

Funciona assim: as duas facções principais do jogo cederam uma à outra territórios-chave onde ficam seus NPCs que dão missões. Dessa forma, se você é um jogador que só quer fazer missões solo, você não pode, pois os NPCs da sua facção estão em território inimigo.

O bloqueio levou MESES para ser combinado e efetivamente realizado, e deve durar até janeiro (apesar dos sabotadores). Prova cabal de que: 1) a guerra nos videogames está cada vez mais parecida com a guerra na vida real e 2) gente desocupada realmente consegue fazer tudo, menos arranjar um emprego.

6) China derruba o jogo Devotion por piada com o presidente

Nós já falamos extensivamente da treta que envolve o jogo Devotion. Se quiser saber da história em detalhes, leia nosso post sobre easter eggs que acabaram gerando polêmica.

Em resumo: o jogo tinha um easter egg que associava o presidente chinês Xi Jinping ao Ursinho Pooh (personagem que foi proibido no país justamente devido a essas comparações). Em fevereiro, dias após seu lançamento, o jogo foi criticado e acabou sendo retirado da Steam, sem previsão de volta até agora.

Honestamente, tem que ser muito babaca para se ofender com uma piada de quinta série como essa e, pior ainda, para usar isso como base para censura. Tome tento, Xi Jinping. Troféu Game Over pra você!

5) A luta de classes chega a Fallout 76

Lembra que dissemos que falaríamos de novo do serviço Fallout First? Pois bem.

O serviço basicamente dá ao jogador alguns benefícios extras no jogo Fallout 76, que é gratuito, perante o pagamento de uma taxa mensal.

O que seria apenas mais uma anedota deprimente do capitalismo se tornou motivo de guerra. Em outubro, surgiram relatos de que jogadores não-First começaram a se organizar para atrapalhar a vida dos First, seja com mensagens ou com ataques (embora seja possível bloquear qualquer um).

O argumento é que o jogo criou essencialmente uma situação de pay-to-win (pagar para ganhar) que recompensa quem tem mais dinheiro para gastar no game. E a forma que os insatisfeitos acharam foi, em vez de parar de jogar ou de tentar reclamar com a Bethesda, continuar jogando e passar a incomodar os outros.

Claro que há também um argumento de que a luta entre os First e os não-First reflete a luta de classes da história do jogo, mas ah… sem tempo, irmão. Se você sabe inglês e tem paciência, há uma thread do Reddit muito explicativa e divertida.

Ou seja, este Troféu Game Over vai para dois grupos de gamers brigando por causa de um jogo ruim. O que é a falta do que fazer, não é mesmo?

4) EA ganha Guinness de comentário mais votado negativamente por defesa de Battlefront

Em 2018, a Electronic Arts foi alvo de polêmicas devido ao seu sistema de loot boxes em Star Wars Battlefront 2. Basicamente, esse sistema exige que você pague para jogar com personagens importantes como a Princesa Leia e Darth Vader.

A empresa foi ao Reddit defender sua posição numa thread e a justificativa meia boca (reproduzida acima) recebeu uma chuva de votos negativos, com mais de 660 mil polegares para baixo.

Em setembro deste ano, foi divulgado que o post da EA se tornou o mais votado negativamente da história da plataforma e, por causa disso, chegou ao livro de recordes mundiais Guinness Book.

Made it to the Guinness book of world records, 2020 from r/StarWars

Você pode até achar que 2019 foi ruim para o mundo (e foi mesmo), mas há de convir que é belíssimo terminar o ano com um sistema predatório de uma empresa predatória recebendo o constrangimento que merece.

3) Blizzard apoia censura chinesa em Hearthstone

Após uma etapa do campeonato mundial de Hearthstone em outubro, o vencedor proferiu ao vivo, numa live oficial, as palavras: "Liberem Hong Kong, revolução da nossa época!". Era um claro posicionamento em relação à delicada situação política que Hong Kong vive atualmente.

A Blizzard não apenas puniu o jogador, retirando seu prêmio, como também deu ban em usuários que postaram seu descontentamento nas redes. Você pode ler a história toda no nosso post sobre empresas que voltaram atrás após polêmicas.

Enquanto parece óbvio para a comunidade que a Blizzard não quer se envolver com política porque quer vender seus produtos na China sem sofrer sanções do governo, também parece óbvio que a deprimente insistência da empresa em não se posicionar politicamente é uma traição aos princípios de liberdade de expressão que guiam a democracia.

Troféu Game Over para essa empresa que compromete os outros para não se comprometer.

2) Produtos "gamers"

Por algum motivo misterioso, 2019 foi o ano em que produtos "gamers" que não têm nada a ver com videogame começaram a proliferar por aí.

Tudo começou com o anúncio da linha Xbox Lynx, com desodorantes e loções para o corpo. A mídia especializada e o próprio público caíram em cima com comentários do tipo "desodorante Xbox para você cheirar como um gamer". O típico caso de marketing que não entende o público a que é destinado, afinal não há nada que os gamers gostem mais do que falar mal dos próprios gamers.

E aí começaram a surgir outras coisas, como uma linha de "streewear para esports", lançada por uma marca chamada Andbox, que, por algum motivo, inclui uma máscara cirúrgica.

Em dezembro, a Puma entrou na brincadeira e lançou meias gamers que custam R$ 420. A descrição diz: "desenhadas para uso doméstico e em arenas, elas apresentam suporte, firmeza e conforto-sem-costura para que os gamers possam se adaptar a diferentes modos de jogo e darem seu melhor".

Claro, porque as meias que você compra 3 por R$ 15 na Centauro é que são o problema na sua performance.

1) A Epic Store rouba vários exclusivos para si, mas oferece uma plataforma pior

2019 foi o ano em que a Epic decidiu investir tudo em sua loja virtual para desbancar a Steam e ocupar o posto de maior loja de games para PC.

A maior arma da empresa para conseguir contratos de exclusividade é o fato de que a Epic exige uma porcentagem menor (12%) sobre o valor de venda dos jogos, deixando uma fatia maior para as desenvolvedoras. A Steam, por exemplo, come 30% do faturamento.

Até aí, ok, é do jogo. O problema foi que, nessa guerra por exclusivos, a empresa tomou medidas eticamente questionáveis. A pior delas foi tornar "exclusivo" para si o game Metro Exodus, que já estava em pré-venda na Steam, deixando os games que adquiriram o jogo naquela loja na mão. Exodus só chega à Steam em fevereiro de 2020.

Essa atitude de roubar jogos que já estavam anunciados na Steam e torná-los exclusivos para a Epic se repetiu com títulos como Anno 1800, Operencia: The Stolen Sun e Super Meat Boy Forever. Além disso, outra atitude questionável da Epic foi tornar Outer Wilds temporariamente exclusivo, sendo que o jogo foi financiado coletivamente em 2015 e muitos dos apoiadores estavam sob a promessa de que o game seria lançado desde o primeiro dia na Steam.

Todos esses fatores levaram a comunidade a ter uma bronca gigante com a Epic, o que acabou se refletindo em outros exclusivos que NÃO existiam em outras lojas previamente, como The Division 2, Borderlands 3, Control e mais.

E quando os gamers ficam bravos, a gente já sabe o que vem: campanha de ódio. A Epic Store e os estúdios dos exclusivos passaram a maior parte de 2019 sob fogo cerrado, com review bombs, vídeos no YouTube, mensagens com ameaças a desenvolvedores, etc.

O cúmulo talvez tenha sido quando um casal que desenvolveu um jogo indie chamado Ooblets passou a receber ameaças de morte e insultos após anunciar que o game seria exclusivo da Epic.

Poxa, mas não é só instalar o app da loja e ficar com as duas? Por que tanto drama dos jogadores?

Bem, aí entram os outros problemas que a Epic Store precisa consertar e não conserta, como a falta de reviews de usuário, a necessidade de estar online para jogar, a falta de conquistas/troféus, a falta de medidas anti-trapaça e a falta de salvamento na nuvem, entre outros. Há até acusações que a Epic Store é spyware, já que 40% de suas ações pertencem à chinesa Tencent.

Por causa de todas essas controvérsias que poderiam ser evitadas com um pouquinho mais de fair play, a Epic Store encabeça nossa lista do Troféu Game Over de 2019.

Sobre o Autor

Victor Bianchin é jornalista, já foi editor da revista Mundo Estranho e escreveu um almanaque de games. Ele tem um Rush de estimação e considera a técnica do button mashing algo subestimado.

Sobre o Blog

Em Control Freak você vai ficar por dentro das curiosidades, bizarrices e polêmicas saudáveis do universo dos games.